A publicação traz fotografias e documentos apresentados na
exposição que reconstitui a cena cultural carioca no começo do século 20,
quando comunidades de afrodescendentes criaram o samba urbano. O catálogo traz
fotografias de documentos da época, matérias de jornais, fotografias de
artistas presentes na exposição, além de ensaios dos quatro curadores. Angélica
Ferrarez, Luiz Antonio Simas, Vinícius Natal e Ynaê Lopes dos Santos.
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Há um Rio que passa no Brasil e tem sua nascente num território que um dia
Heitor dos Prazeres denominou como “Pequena África”. Se ele parece diminuto
quando comparado com a imensidão do continente donde foi originária a maioria
das gentes que o habitaram e habitam, a imensidão das suas culturas, das suas
ancestralidades, da resistência, dos combates, das vidas que nele confluíram e
das artes que dele emanaram emancipa esse Rio da violência histórica da
escravidão, da segregação racial, da exploração humana e da exclusão social que
sempre o caracterizaram. Por vezes, as cidades acontecem à revelia das formas
de poder instituído que tentam formatá-las, movidas pelo caudal das gentes que
a elas chegam e nelas vivem, movidas pela energia dos seus modos de vida,
culturas e espiritualidades que rompem todas as amarras que pretendam
condicioná-las. Essa é a força extraordinária das culturas negras que no Rio de
Janeiro tiveram como epicentro esse território em torno da sua zona portuária,
dos bairros de Gamboa, Saúde e Santo Cristo, dos morros da Providência, do
Pinto e da Conceição, da praça Mauá, dos terreiros das suas religiões
afro-brasileiras às escolas de samba e às manifestações do jongo, da capoeira,
das palavras, dos batuques e dos bailes que souberam protagonizar existências
que sempre enalteceram a vida como expressão maior das suas sobrevivências.
Os acervos do Instituto Moreira Salles reúnem
documentos preciosos de muitas das histórias desse território, preservadas
pelas suas áreas de Fotografia, Iconografia, Literatura e Música. Selecionar,
reinterpretar e ressignificar esses documentos, articulando a memória com as
lutas e o pensamento do Brasil contemporâneo resultou nesta exposição, Pequenas
Áfricas: o Rio que o samba inventou, resultado de um processo de diálogo e
aprendizagem entre responsáveis e programadores dos acervos do IMS e uma equipe
curatorial externa convidada, constituída por Angélica Ferrarez de Almeida,
Luiz Antonio Simas, Vinícius Ferreira Natal e Ynaê Lopes dos Santos. A todas e
todos manifestamos a mais profunda gratidão pela pesquisa, pelo trabalho e pela
reflexão conjunta que a tornaram possível. Esse reconhecimento é extensivo a
artistas, criadores, famílias, colecionadores e instituições que generosamente
criaram ou emprestaram as obras que agora podemos ver reunidas. Todas as
equipes do IMS envolvidas nesta exposição nos merecem um agradecimento muito
especial. Um reconhecimento é devido igualmente às dezenas de associações,
coletividades, instituições e entidades que redesenham no presente as memórias,
as lutas e as iniciativas de todas essas “pequenas áfricas” cariocas nos
dilemas e desafios dos nossos dias.
Marcelo Araujo, diretor-geral
João Fernandes, diretor artístico
Instituto Moreira Salles