
Cinema: MANAS - filme da diretora Marianna Brenand com Dira Paes e grande elenco
Cinema: MANAS - filme
da diretora Marianna Brenand com Dira Paes e grande elenco
Nada mais interessante do que iniciar a coluna de
cinema com os comentários sobre este grande filme, lançado no último dia 15 de
maio em circuito nacional.
No último dia 09 de maio aconteceu em São Paulo a
pré-estreia no cinema do Conjunto Nacional. Plateia cheia brindada com a
presença da maioria do elenco .
Acontecimento de muita importância doi a presença
da amiga Henriqueta, inspiradora central do filme que levou dez anos para ser
concluído pela diretora Mariana Brenand e sua competentíssima equipe, que
conseguiu trazer para as telas do cinema a dura realidade de um mundo que,
embora pareça distante, está muito presente na sociedade brasileira, da qual nos
tornamos grandes responsáveis.
Marianna Brennand, acaba de receber o premio Women
in Emerging TalentAward 2025, por este file. Ressaltou: considerou “a conquista
como uma vitória coletiva para as mulheres no cinema”. Nada mais justo.
Esta coluna esteve presente nesse lançamento, com uma recepção muito carinhosa nas comemorações onde se pode destacar algumas entrevistas. Destacamos aqui o artigo de Carolina Florindo que teve oportunidade de entrevistar uma das personagens centrais do filme Fátima Macedo, que retrata bem o que foi esse encontro e a importância do filme.
“Manas filmam manas”:
filme retrata a exploração sexual infantil na Ilha do
Marajó a partir de
relatos e denúncias da ativista de Direitos Humanos Irmã
Henriqueta
Por Caroline Florindo
Como abordar um assunto terrivelmente violento sem trazer a
violência
explícita como ferramenta de exibição? A diretora de cinema
Marianna Brennand e
toda a equipe do filme “Manas” responderam esse
questionamento e realizaram
com maestria. O filme, que denuncia a problemática do abuso
e exploração sexual
infantil na Ilha do Marajó, escancara a dura realidade de
meninas que são
submetidas a constante violência nas balsas que transitam o
Arquipélago do Marajó
e, na maioria das vezes, dentro das suas próprias casas.
A pré-estreia no Brasil desta obra cinematográfica já
premiada
internacionalmente ocorreu nesta sexta-feira, dia 9 de maio,
às 20h00, no Cine
Marquise no Conjunto Nacional localizado na Avenida
Paulista, em São Paulo, e
contou com a participação do elenco e da equipe de produção
do filme, além de
jornalistas, intelectuais, convidados e a presença ilustre
da Irmã Marie Henriqueta
Ferreira Cavalcanti e do delegado Rodrigo Amorim, ativistas
de Direitos Humanos
que atuam na região amazônica em defesa das crianças e
adolescentes e
contribuíram com relatos essenciais, além do suporte na
produção do filme.
A Irmã Henriqueta, como é carinhosamente conhecida, é uma
mulher forte e
imponente que se destaca por sua simplicidade e poder de
fala. Ela que, ainda
noviça da Congregação Nossa Senhora Menina, morou em Rio
Claro e atuou nas
Comunidades Eclesiais de Base nos bairros periféricos da
cidade, se tornando
conhecida por sua participação social e política. Após quase
10 anos de trabalho no
interior de São Paulo, retornou para Belém e desde então,
luta diariamente como
ativista e líder do Instituto de Direitos Humanos Dom José
Luís Azcona, instituição
dedicada à proteção de crianças e adolescentes em situação
de vulnerabilidade.
Dona de uma voz imponente e franca, Irmã Henriqueta tem uma
trajetória
marcada pela denúncia, acolhimento e ativismo social,
especialmente no combate à
exploração sexual infantil e ao tráfico de mulheres na
região amazônica. Em meio
ao enfrentamento, Henriqueta sofre ameaças constantes sobre
sua vida. Com muita
coragem, antes da exibição do filme, ela pegou o microfone e
discursou: “Prefiro
morrer a me calar diante da violência sofrida por meninas e mulheres”.
Além de Henriqueta, a diretora, elenco e equipe de produção
puderam se
apresentar e relatar a experiência de participar deste
projeto que durou dez anos de
pesquisa, filmagem e desenvolvimento até chegar às telas do
cinema. A atriz Dira
Paes, que interpreta a delegada Aretha, expressou sua
gratidão ao trabalho da Irmã
Henriqueta e do Delegado Rodrigo Amorim, personalidades que
a ajudaram na
construção de seu personagem.
Para além da obra cinematográfica e impecável produção, o
filme é um
verdadeiro “tapa na cara” que expõe a vulnerabilidade
socioeconômica das famílias
marajoaras e a ausência de políticas públicas eficazes na
região, impulsionando e
mascarando a exploração sexual de meninas, tocando no cerne
da questão, tirando
o “band-aid” de uma enorme e profunda ferida social. Diante
de uma cultura
patriarcal e machista ainda não superada, a violência contra
meninas e mulheres
está enraizada na estrutura familiar em que coloca o homem
no papel de
proprietário dos corpos daquelas que considera sua prole.
É emblemático ter um filme que retrata tal violência
dirigido e produzido por
mulheres. Ao dar voz à ELAS, a história é contada com a
sutileza e o respeito que
merecem. Sem nenhuma cena explícita de violência, a
violência é denunciada,
afinal, “Manas filmam Manas”, “Manas defendem Manas” e
“Manas escutam
Manas”, como diziam letreiros e adesivos para a divulgação do filme.
Durante o coquetel após a estreia, tive a oportunidade de
conversar com a
atriz cearense Fátima Macedo que interpreta Danielle, mãe de
Tielle (Jamilli
Corrêa), personagem principal do filme. Com um sorriso fácil
e simpático, Fátima
relatou o processo de construção dos personagens e a imersão
na história
complexa e difícil. Ela, que precisou interpretar uma mãe
conivente com a
exploração sexual de suas filhas, expressou profunda e
genuína sororidade por
essas mulheres que vivem e reproduzem violências. Sua
personagem nos fez
refletir sobre a ausência do poder público, de ações
efetivas do governo e da
polícia, sobre a necessidade de acolhimento e encaminhamento
às vítimas. Durante
nossa conversa, ultrapassamos os limites da região amazônica
e discutimos sobre
como o machismo e a violência contra a mulher está
impregnado na sociedade.
Como situações como essas acontecem em todo o Brasil. O
filme que retratou a
violência física e sexual, nos fez refletir, também, sobre a
violência psicológica e
emocional, sobre as marcas e cicatrizes deixadas nas
vítimas. A violência sexual é
uma ferida que não se cura.
final da exibição, com um cinema lotado, o silêncio ecoou durante alguns
segundos, interrompido por palmas calorosas que duraram
alguns minutos, com um
público emocionado e de pé. Havia um pacto silencioso feito
a partir dos olhares
marejados indicando que aquela era uma obra fundamental para
mudar realidades.
A estreia do filme nos cinemas está marcada para o dia 15 de maio de 2025.
Prepare a pipoca e o lencinho. Prepare-se para ser
profundamente impactado pela
história de Macielle ou Tielle frente às mazelas do
patriarcalismo estrutural e a
violência cometida no lugar onde deveria encontrar segurança: a sua casa.
Fátima Macedo (à esquerda) com Caroline Florindo
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