
Capital Fóssil – a ascensão do motor a vapor e as raízes do aquecimento global – Andreas Malm
Editora Elefante
Descrição (Nota da editora)
“Quanto mais sabemos sobre as consequências da
queima de combustíveis fósseis, mais combustíveis fósseis são queimados. Como
nos metemos nessa confusão?” A resposta, segundo Andreas Malm, passa pela
compreensão de que, em nosso sistema produtivo, a transformação de carvão,
petróleo e gás em co2 está
diretamente relacionada à acumulação de capital e à exploração dos
trabalhadores. Foi para potencializar o mais-valor que as indústrias têxteis
britânicas do século xix abandonaram a energia hídrica em benefício do vapor.
Ao adotar o carvão, os proprietários podiam levar suas manufaturas para cidades
repletas de mão de obra barata — o que não acontecia no interior, onde até
então se instalavam em busca de quedas d’água. Com farta pesquisa histórica,
Malm demonstra que a economia fóssil se desenvolveu prioritariamente como
resultado da disputa entre capital e trabalho — e que, por isso, a única chance
de deter o colapso climático é abandonar definitivamente o capitalismo.
***
Esqueça o Antropoceno. As múltiplas intervenções
climáticas que nos trouxeram à antessala do colapso não são resultado do fogo
prometeico entregue a uma espécie piromaníaca. O aquecimento global é fruto de
intervenções antropogênicas no clima, por certo — mas “perceber que as mudanças
climáticas são ‘antropogênicas’ significa compreender que elas são sociogênicas”, escreve Andreas Malm. E os combustíveis
fósseis estão na base do desenvolvimento dos “negócios de sempre” do
capitalismo industrial.
Em Capital fóssil, Malm
faz uma incursão histórica às origens do que ele chama de economia fóssil, isto
é, “uma economia baseada no consumo crescente de combustíveis fósseis, que gera
um aumento contínuo de emissões de dióxido de carbono. Essa economia,
afirmamos, é o principal motor do aquecimento global”. Suas raízes estão na
Inglaterra da Revolução Industrial — mais especificamente, quando os
industriais do século XIX trocaram as rodas d’água por motores a vapor e
começaram a queimar toneladas de carvão para maximizar a produção e os lucros.
Esgaravatando a origem do problema, Malm recupera
documentos do Parlamento inglês, memorandos de fábricas, depoimentos de
industriais e de operários, numa pesquisa exaustiva a respeito da gênese dos
combustíveis fósseis e de seu papel crucial na dominação do capital sobre a
força de trabalho. E, entre as conclusões reveladoras dessa incursão histórica,
o autor afirma que, “em certo estágio do desenvolvimento histórico do capital,
os combustíveis fósseis se tornaram um substrato material necessário para a
produção de mais-valia”. Mais ainda: os combustíveis fósseis se tornaram “a alavanca geral para a produção de mais-valia […]
uma vez que são utilizados ao longo de todo o espectro da
produção de mercadorias como material que põe o processo em
movimento”. A energia fóssil, portanto, “alimenta o perpetuum mobile da acumulação de capital, que
sempre se reacende como um fogo que anima a produção, e o ciclo continua
indefinidamente”.
Tão
intricados estão combustíveis fósseis e capitalismo que não é viável abandonar
apenas um deles. Este livro exibe dois séculos de evidências de que não houve
nem haverá capitalismo verde. A única saída de emergência para o planeta em
chamas exige uma transição energética — que, Malm deixa claro, demanda antes de
tudo um rompimento completo com a economia capitalista.
***
Até
agora, e por razões particulares, nem a história ambiental nem a história do
trabalho esteve muito propensa a ligar os pontos entre os trabalhadores e o
ambiente mais amplo, entre a classe e o clima. O mesmo silêncio reina na
pesquisa sobre energia durante a Revolução Industrial. De fato, as mudanças
climáticas permanecem, em si mesmas, sobretudo como objeto das ciências
naturais, apesar de um surto recente de interesse dentro das ciências sociais.
Somos inundados por dados sobre efeitos catastróficos, mas há uma pobreza
comparativa de ideias e análises relativas a suas causas e seus
impulsionadores. Ou, para parafrasear Marx: a maior parte da ciência climática
ainda habita essa atmosfera silenciosa, na qual tudo se passa à luz do dia, mas
não adentra o terreno oculto da produção, onde os combustíveis fósseis são de
fato produzidos e consumidos. Ao menos por ora, os cientistas naturais vêm
interpretando o aquecimento global como um fenômeno que ocorre na natureza; a questão,
no entanto, consiste em rastrear suas origens humanas. Somente assim
preservaremos ao menos uma possibilidade hipotética de mudança de curso.
— Andreas Malm, no capítulo 1
SOBRE O AUTOR
Andreas Malm é professor
de ecologia humana na Universidade de Lund, Suécia, e um dos principais
pensadores mundiais sobre o enfrentamento político da crise climática. É autor
de vários livros, entre os quais A destruição da Palestina é a
destruição do planeta (Elefante, 2024), How to Blow Up a Pipeline: Learning to Fight in a World on Fire e The Progress of this Storm: Nature and Society in a Warming World.
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